segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Celular

O uso do celular é hoje em dia, de uma certa forma, uma aberração. Só 1 em cada 200 jovens não possui celular. As nossas gerações mais jovens são umas autênticas gerações SMS: não porque enviem muitos sms, mas porque foram programadas para viverem SMS (sem muitos sacrifícios). Por causa dessa “formatação”, é fácil encontrarmos jovens que cortam nas despesas com as refeições, com a saúde, com a educação, mas evitam cortar-se nas conversações à distância… Usem menos o celular, pode ser uma boa idéia… Poupem dinheiro, poupem tempo e poupem radiações.
Volta e meia, releio um livro que eu gosto muito, Quatro Histórias ao Modo Quase Clássico (Editora Imago), uma pequena coletânea de contos meio autobiográficos escrita pelo norte-americano Harold Brodkey, que morreu de Aids em 1996. São quatro histórias que têm como elementos principais o sexo, a memória e a melancolia. A partir da sensualidade, Harold Brodkey evoca lembranças inventadas carregadas de tristeza (“Ouça o meu conselho e minta, diga que somos felizes, diga um monte de mentiras se você quiser fazer algo na vida”). O conto Inocência descreve uma tórrida relação sexual cheia de detalhes e minúcias - “Não quero você fazendo coisas pra mim! Eu quero que você dê uma trepada legal”. A sensualidade permeia praticamente todas as histórias narradas sob sensações difusas: “Somos criaturas indecentes remoendo uma léxica geometria emocional tão sofisticada quanto a alva sutileza do formato de um ovo”. Quatro Histórias ao Modo Quase Clássico é uma obra estranha, triste, criativa, que eu releio sempre com enorme prazer. É uma das minhas releituras favoritas.

Lincoln e Django Unchained


Nesta temporada de Oscar, dois filmes muito elogiados já vem sendo apontados como presença garantinda na noite do “prêmio máximo do cinema”: Lincoln, de Steven Spielberg; e Django Unchained,de Quentin Tarantino. Estes dois filmes abordam, cada um a sua maneira, dois fatos trágicos dos EUA, a morte do Presidente Abraham Lincoln, retratado por Spielberg; e a escravidão, de certa forma, fantasiada por Tarantino. Não assisti a nenhum dos dois filmes, mas, de antemão, gostaria de falar sobre alguns detalhes sobre esses dois filmes. Curiosamente, não vi nenhum crítico de lá, e não acredito que nenhum crítico daqui fará diferente, dizer que o filme Lincoln esconde certos detalhes sobre a figura do notório presidente. Sim, Lincoln foi o presidente que unificou os EUA, oficialmente, que, depois, se tornaria uma potência mundial. Lincoln foi um “self made man” que enfrentou um EUA marcado pelo ódio e pela intolerância. Sua posição a favor da abolição da escravatura foi sua sentença de morte. Entretanto, o que o filme não diz é que Lincoln também era racista, ele considerava o negro raça inferior. Ele lutou pelo fim da escravidão porque sem a abolição, o Norte, mais desenvolvido e industrializado, seria profundamente prejudicado em seu projeto de domínio econômico. Lincoln foi o símbolo máximo do notório pragmatismo norte-americano e não um simples idealista, puro ou quase santo. Hoje, todos sabemos que os EUA ainda são um território marcado pelo ódio, pela intolerância. Lincoln é um filme pertencente a uma geração marcada por chacinas em escolas, universidades e shoppings que vitimizam quem estiver pela frente, inclusive crianças. Este filme veio para celebrar uma América capaz de superar seus traumas sociais, não acredito. Os EUA, mesmo com a eleição de Barack Obama, continua intolerante, a crise social e econômica está longe de acabar, a desigualdade social por lá só cresce. Vi várias cenas do filme e não duvido que este seja o melhor filme de Spielberg em muitos anos, mas insisto em dizer que o filme foge de questões importantes que deveriam ser abordadas mesmo sabendo que se trata de um filme comercial.

O outro filme é Django Unchained, do Tarantino, que leva a sua metalinguagem até a escravidão, um tema pouco abordado pelo cinema. Também não assisti a este filme ainda, mas já vi vários trailers e não duvido que o filme seja bom. Mas, eu tenho lido em alguns artigos que o filme não vai fundo na questão racial do período, que diz muito do que são as relações racias nos EUA ainda hoje. A trama se resume a uma história de vingança, assim como Kill Bill e Bastardos Inglórios. No filme tem um escravo recém-liberto como protagonista e um senhor de escravos como antagonista. E neste antagonismo entre o branco e o negro é o que ainda há de mais caro na sociedade norte-americana. Parece que o filme de Tarantino foge desta questão, preferindo colocar os personagens apenas como peças de um jogo de acerto de contas. Uma pena porque o diretor poderia abordar, mesmo que em forma de “entretenimento” o ressentimento que ainda existe entre ambas as raças. O ressentimento do branco que não aceita dividir direitos universais com quem ele ainda considera uma raça inferior, não aceita a possibilidade de um dia se sentir igual e possivelmente ou ligeiramente inferiorizado por quem tem pele escura, um ressentimento marcado pela soberba. E o ressentimento do negro, a vítima preferencial do racismo e que ainda faz parte da maioria excluída não só nos EUA, mas tambem em países como o Brasil. Django Unchained fala da escravidão com o seu estilo moderno e contemporâneo, mas pelo que parece, não aborda de forma perturbadora a questão racial, que é uma chaga em todas a sociedades globalizadas e preconceituosas, inclusive a brasileira.

Lamento que estes dois bons filmes, pelo que dizem, não levem para um contexto atual duas histórias trágicas que ainda não acabaram e que, por isso, estão mais atuais do que nunca. Mas, como vivemos numa sociedade que contemporiza com absolutamente tudo, essas questões históricas serão vistas como mais um entretenimento entre pipocas e litros de Coca-Cola.

Tanta gente sem casa e tanta casa sem gente!

Uma das coisas que dominaram o Rio nas últimas décadas é o notório exagero da construção de prédios, habitações e shoppings. Atualmente, milhares de famílias deixaram de pagar o empréstimo da casa isso sem falar daquelas que andam enrascadas com uma ou mais prestações atrasadas.
As empresas de construção civil beneficiavam constantemente de empréstimos para construírem mais e mais habitações e agora sobram apartamentos acabados sem procura e apartamentos por acabar, sem financiamento para os concluir.
Era uma espécie de roda desgovernada em que se construía simplesmente para ganhar dinheiro, sem planificação nem ordenamento, sem racionalidade nem precaução…
Bem que a gente poderia viver bem melhor sem estes novos adereços da paisagem urbana. O Rio não precisa de prédios, shoppings, precisa apenas ser preservado. Como pode tantas construções atrapalhando a linda paisagem do Rio de Janeiro?
Daqui a pouco teremos mais elefantes brancos de concreto pela cidade. E tudo em nome do consumo, do turismo…
Tanta gente sem casa e tanta casa sem gente!

Vizinhança como solidão

Foi muito noticiado aqui no Rio, o triste fim de um lindo e jovem casal apaixonado que morreu asfixiado numa apertada garagem de uma casa, conheço o local, já que o caso ocorreu perto do meu bairro. O casal ficou no local por pelo menos sete dias. E os vizinhos nada repararam de estranho? Claro que não. Quem pensa que os maus exemplos de vizinhança aparecem só no Brasil, engana-se: num bairro chique de Lille, na França, um idoso de 90 anos estava morto em casa há 15 anos! A descoberta foi feita por um funcionário municipal que procurava a origem de uma fuga de água e encontrou numa cama um esqueleto vestido de pijama… “É a morte de um homem só numa sociedade em que não se dá atenção ao vizinho!” – exclamou um perito.
O triste destino de uma pessoa que fica abandonada em casa durante 15 anos é mais um exemplo desta sociedade globalizada, mas tão individualista e egoísta, que, com tanta podridão por dentro de sí mesma, não cheira o odor de um cadáver…

Portas

Adoro as portas das casas antigas. Também gosto das portas das Igrejas católicas. Encontrar números sobre uma porta antiga, especialmente um número bonito, que vejo como um tipo de símbolo. De abandono em abandono, vejo portas de casas velhas e vazias, há muitas aqui no Rio, que deveriam ser consideradas de Interesse Público, mas… Vejo portas que, há dezenas, talvez centenas de anos atrás, funcionavam como farmácias que ofereciam medicamentos à doentes marcados pela miséria. Outras portas, antigamente, serviam a outros tipos de pessoas carentes: os excluídos carentes de amor, de afeto, que viam nas “mulheres da vida” um consolo para a solidão. Claro que também adoro as portas das casas antigas do subúrbio, simples, rústicas, mas sempre belas, hoje substituídas por portões lacrados, fechados, duros e frios da chamada “nova classe média suburbana”… Amo as portas das Igrejas de arquitetura neoclássica, barroca - muitas delas caindo aos pedaços. São portas enormes, já afetadas pelo tempo, mas que trazem consigo a beleza da memória. Hoje, vejo o domíno de portas tecnológicas, feias, ameaçadoras, sem vida que simbolizam uma sociedade feia, antipática, fechada, cheia de empáfias, cheia de medo. As portas dizem muito sobre aquilo que fomos e revelam a coisa triste que somos agora.

Tragédia feita de latas estilhaçadas, vidros e sangue

“Horas seguidas a presenciar pelo caminho a crispação nacional ao volante, frenética, agressiva, criminosa. De quilômetro em quilômetro, um carro espatifado. Latas amolgadas, estilhaços de vidro, sangue – o espólio catastrófico de uma irresponsabilidade coletiva que só no fundo do abismo pode encontrar paz.” Este texto de Miguel Torga, escrito em 1975, serve para os nossos tempos e para a irresponsabilidade criminosa com que muita gente se mete na estrada, no verão quente de 1975, como em qualquer estação de qualquer ano do século 21.

Na era do corpo sarado nunca se viu tanta gente doente

Pelo menos 60% dos brasileiros são vítimas do que comem. A cada dia que passa morrem de fome 24 mil pessoas, mas muitas mais morrem por comerem em excesso! As tromboses, os enfartos, os altos níveis de colesterol, a diabetes, a hipertensão e muitos cânceres têm muitas vezes origem na alimentação desequilibrada. Eu vejo, por exemplo, neste verão de mais de 40 graus, muitos playboys desfilando de camiseta ou sem camisa, ao lado de suas patricinhas, como troféus, exibindo seus músculos anabolizados. Essa gente, se enche de porcarias, bebidas alcoolicas para depois, com sua musculatura fake, caírem aos pedaços. E, na geração do corpo sarado, nunca tivemos tanta gente doente, tanta gente morrendo de câncer e infarto.

Saudades do circo

Nunca gostei de circo, embora também não goste nem um pouco daquela coisa chamada Cirque du Soleil. Mas, confesso que até sinto saudades dos tempos em que as companhias de circo abriam concursos para domador de leões. Eu me lembro que apareciam 15 candidatos e para uma primeira prova foi-lhes dito que o leão do circo matou os 2 últimos domadores. Sete candidatos desistiram logo… Seguiu-se um teste escrito sobre leões, para os 8 restantes. Seis saíram fora… Para os 2 finalistas, os donos do circo escolheram então uma prova real: ficarem fechados na jaula com o leão. Os 2 finalistas eram uma jovem (gostosa, eu me lembro disso também) e um senhor idoso. A garota entrou na jaula e despiu-se completamente. Nada adiantou: o leão lambeu, cheirou e depois comeu a garota, literalmente. E o velho, diante da cena, teve um infarto. Eu, claro, não tive pena, já que, no circo, sempre estou do lado dos bichos, claro. Depois do fato tragicômico, o circo, juntou suas barracas e sumiu do mapa. Parece mentira, mas é verdade.

Amor e Ecologia

Caminhando por alguns pontos da cidade do Rio, como o Aterro do Flamengo, vejo algumas Palmeiras sem vida. Mas há já quem esteja dando utilidade aos seus troncos mortos. O bom exemplo de reutilização ecológica nos é dado por um casal de aves que tratou de fazer o ninho sobre o que resta de uma Palmeira. Achei lindo o que eu vi. A natureza nos ensina comportamentos ecológicos - e românticos…