Adoro as portas das casas antigas. Também gosto das portas das Igrejas
católicas. Encontrar números sobre uma porta antiga, especialmente um
número bonito, que vejo como um tipo de símbolo. De abandono em
abandono, vejo portas de casas velhas e vazias, há muitas aqui no
Rio, que deveriam ser consideradas de Interesse Público, mas… Vejo
portas que, há dezenas, talvez centenas de anos atrás, funcionavam como
farmácias que ofereciam medicamentos à doentes marcados pela miséria.
Outras portas, antigamente, serviam a outros tipos de pessoas carentes:
os excluídos carentes de amor, de afeto, que viam nas “mulheres da vida”
um consolo para a solidão. Claro que também adoro as portas das casas antigas do
subúrbio, simples, rústicas, mas sempre belas, hoje substituídas por
portões lacrados, fechados, duros e frios da chamada “nova classe média
suburbana”… Amo as portas das Igrejas de arquitetura neoclássica,
barroca - muitas delas caindo aos pedaços. São portas enormes, já
afetadas pelo tempo, mas que trazem consigo a beleza da memória. Hoje,
vejo o domíno de portas tecnológicas, feias, ameaçadoras, sem vida que
simbolizam uma sociedade feia, antipática, fechada, cheia de empáfias,
cheia de medo. As portas dizem muito sobre aquilo que fomos e revelam a
coisa triste que somos agora.
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