sexta-feira, 31 de maio de 2013


Achei num sebo no Centro do Rio um livro de 1995, Os Crimes do Olho-de-Boi, escrito pelo saudoso Marcos Rey. É um livro curto, 216 páginas, simples, popular em estilo, mas inteligente. Os Crimes do Olho-de-Boi é uma história policial que tem como principal personagem um detetive bem brasileiro. A trama se passa numa grande cidade de São Paulo onde o Adão Flores é um investigador comum, sem nenhuma sofisiticação, formado pela TV. Adão Flores era uma apresentador de um popular apresentador de um programa de televisão, meio mundo cão, em que ele desvendava os mais variados tipos de crimes. Quando o programa chega ao fim, Adão Flores começa a ser solicitado por pessoas que acreditam no seu talento para desvendar crimes. E Flores, de investigador amador, transforma-se em detetive. E este detetive utiliza os seus dotes, digamos, artísticos de homem de TV para desvendar uma série de assassinatos. A nova vida de detetive de Adão Flores dá uma guinadfa inusitada quando ele é praticamente obrigado a investigar o caso de uma quadrilha especializada em assassinatos de pessoas ricas.

Adão Flores, não é um detetive sofisticado, ele não é policial, não tem nível superior, não é um técnico. Adão é uma figura comum, popular, gordo e meio desengonçado. Os métodos de investigação de Flores são bem simples e não fica difícil para o leitor descobrir quem são os culpados da história.

O charme do romance está na maneira como é descrita a cidade de São Paulo. A história se passa em boates, inferninhos e ruas do grande Centro que são descritas em detalhes tão interessantes que acabam se transformando no principal elemento da trama. O submundo paulistano é o contraponto ao espaço da elite endinheirada, que é vítima e algoz de sí mesma. A noite noturna de São Paulo tem como personagem central a prostituta Diana Bandida, deliciosamente caricata como o próprio nome. Há ainda a governanta alemã, personagem que introduz o investigador ao universo dos ricaços.

A trama de Os Crimes do Olho-de Boi é simples como seu protagonista Adão Flores, apesar do final surpresa, mas tudo funciona e convence. O mértio do romance é criar herói tipicamente brasileiro: malandro, popular, divertido. Adão Flores é um tipo forjado pelas telas da TV, próximo do povo, um sujeito que conhece bem o lado sórdido da sociedade e que sabe que o jeitinho brasileiro é um modo de se virar na vida. E é com este jeitinho que ele desvenda seus casos de forma criativa e original. Adão Flores, um sujeito maroto, mas honesto, é um produto tipicamente pop, mas um pop à brasileira, meio trash, meio cafona.

Infelizmente, Os Crimes do Olho-de-Boi é uma aventura que teve o mesmo fim do todos os programas populares que saem do ar e caem no esquecimento do espectador. Mas o personagem Adão Flores é um personagem vivo, verossímil, que encontramos nos ambientes em que se passa a história, os bairros populares, as ruas chiques, os Ban fonds, os bares, locais em que o povo transita das mais diversas formas. O livro de Marcos Rey não foi notado, mas nos deu personagem um mítico que mora no inconsciente do todo brasileiro.

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